segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Resumo do livro: “Professoras de educação infantil: entre o feminino e o profissional”. CERISARA,Ana Beatriz. Professoras de educação infantil: entre o feminino e o profissional. São Paulo: Cortez editora, 2002.





1. A
construção de identidade de gênero e profissional: a inserção profissional das mulheres nas instituições de educação infantil.

Pode se afirmar que o profissional tem sido mulheres de diferentes: classes sociais, idades, raças, trajetórias pessoais e profissionais, expectativas frente a sua vida pessoal e profissional. Trabalham em uma instituição que transita entre o espaço público e o especo doméstico, em uma profissão que guarda o traço de ambigüidade entre função materna e função docente.
A maioria dos estudos sobre educação tem minimizado a presença maciça das mulheres na profissão do magistério, pouco explorando as possíveis implicações de gênero na construção da identidade das educadoras.
A constatação de que essa profissão tem sido marcada por uma naturalização do feminino, quando é enfatizado e predomínio de mulheres como profissionais dessas instituições, significa compreender de que a categoria gênero é uma dimensão decisiva da organização da igualdade e da desigualdade em nossa sociedade.
É importante ressaltar que o gênero é uma esfera social em que não há uma posição única, consensual e harmoniosa que representa a sociedade como um todo.
A mulher é vista na sociedade não pelo grupo cultural a que pertence, mas sim ao sentido que suas atividades representam em relação a sua interação com a sociedade.
         No que concerne a estas atividades, efetuou-se uma pesquisa dentro de instituições de educação infantil, e analisou-se seu conceito em relação à instituição de educação infantil, mãe-casa, professora-escola, e da importância da sua experiência, não só na área doméstica, mas também na área econômica e política, e assim do seu papel como transformador do dia-a-dia das instituições de educação infantil.
         Constatou-se da necessidade de uma analise sobre a identidade dessa profissão e dessas profissionais. Para Nóvoa a identidade é um lugar de lutas, conflitos e construções, na maneira de ser e de estar na profissão.
          Antonio da Costa Ciampa definiu a identidade como uma metamorfose, como constante mudança, e está relacionada com o cotidiano profissional de cada um.
           A identidade profissional da mulher, dentro da sociedade, foi historicamente desvalorizada. Quando se fala de educação de crianças de 0 a 6 anos, a função está vinculado diretamente ao papel da mulher, que foi sempre desvalorizado quando se equiparava ao mundo masculino, no qual estes tinham seu trabalho considerado como racional e técnico.
          O papel da mulher e do homem dentro da sociedade é dividido e hierarquizado pelo gênero a que pertencem, mas Jean Anyon diz que não existe a aceitação ou rejeição completa de atitudes  e comportamentos apropriados aos papéis sexuais, e sim da maneira de agir de cada um e também das determinações e contradições que existe em cada sociedade.
            Dentro da sociedade e do processo de socialização, das meninas, elas recebem estímulos sociais para que se tornem mulheres seguindo o modelo tradicional de feminilidade, sendo mulheres submissas e dependentes, ou na escolhas de alguma carreira profissional.
              Muitas mulheres queriam agregar ao seu cotidiano de mulheres submissas e dependentes, uma carreira profissional de sucesso, no mundo competitivo e não mundo doméstico, elas tinham manifestações tanto de acomodação quanto de resistência elas se deparavam com um conflito interior: com a carga de feminilidade, e em fazer a vontade de seus maridos, e também, com a necessidade de ter seu valor profissional reconhecido.
               Alguns depoimentos mostram as contradições vividas por algumas dessas profissionais, com o lado da feminilidade, e o desejo da valorização da auto-estima. Nestes depoimentos as mulheres colocam que trabalhavam fora quando eram solteiras e depois de casadas os maridos não queriam mais que trabalhassem fora.
               Em um depoimento a mulher teve o estímulo do marido para voltar a estudar, mas sentiu dificuldade em conciliar esse desejo, com o compromisso de ser esposa e mãe.
               Mas muitas vezes não são só os maridos que colocam as mulheres no papel de submissas, mas o pai também. A mulher por ter o dom da maternagem e habilidades domésticas, é vista tanto no mundo doméstico como no mundo da sociedade como responsável pela educação de crianças pequenas, pois já são preparadas para tal missão.
O trabalho doméstico teria como característica “a atenção dispersa por várias tarefas, o acúmulo simultâneo de funções, o improviso e a troca temporária de funções com vizinhas e familiares”(Rosemberg e Amado,1992:70). Essas características são vistas no trabalho desenvolvido nas escolas pelas professoras de ensino fundamental series de 1º à 4º serie.
Marília Pinto de Carvalho acrescenta que, no entanto, “este estilo é decorrente da falta de recursos, funcionários e equipamentos, obrigando a que cada profissional execute uma variedade de tarefas para as quais nem sempre foi qualificado”.
O Magistério das séries iniciais do ensino fundamental, segundo a autora, tem três características do trabalho doméstico, sendo elas:
* dispensa do embasamento teórico ou a reflexão crítica, pois se acredita que a professora possui um saber natural de ensinar as crianças.
*busca de fórmulas práticas que vão sendo testadas no dia- a –dia.
*confiança em um sistema de repetição de regras neutras.
Revela a autora, que diante dos fatos apresentados a respeito da feminização do magistério, praticamente não leva em consideração a presença do trabalho doméstico:
O trabalho doméstico é social e culturalmente compreendido como definidor das atividades ditas femininas e, no entanto, sempre foi objeto isolado de estudo, sem que se observasse o peso que sua presença inexorável na vida da maioria das mulheres teria sobre outras atividades desempenhadas por elas” (Piza,1994:80).
Registrado nos depoimentos das auxiliares de sala é possível observar, no decorrer da vida, o desenvolvimento das funções de maternidade e de trabalho domestico, tanto em casa quanto nas instituições de educação infantil.
Nestes depoimentos é possível ver o que Elisabeth Souza-Lobo afirma sobre a existência de uma divisão rígida do trabalho doméstico, em que a desigualdade na divisão das tarefas é vivida como uma relação natural.
Uma professora considera que trabalhar na educação infantil tem significado para muitas mulheres um avanço, no sentido de ser um espaço de trabalho fora de casa que também acaba por se constituir como um espaço de lazer para as mulheres.

As escolhas profissionais: emprego versus profissão

A utilização desses dois termos, emprego/trabalho x profissão/carreira, decorre da forma diferenciada de como essas profissionais se referem à sua atual profissão.
As auxiliares de sala parecem estabelecer uma relação com um emprego ou um trabalho, sem que tenha existido uma idéia de carreira a ser seguido, alcançada, ou que tenha sido estabelecida como meta viável para o mercado de trabalho não parece vinculado à idéia do exercício de uma profissão.
Por sua vez, as professoras se referem à profissão ou carreira que foi escolhida de alguma forma, pois houve um investimento dirigido aos estudos.
Quanto às escolhas profissionais, as professoras explicitaram que, houve muito mais uma não escolha pela profissão de professora ou do curso de magistério. O ingresso na creche é uma decorrência e não o ponto de partida para a escolha.

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